Projeto leva saúde para moradores há mais de 40 anos

30/09/2015 00h00 ⋅ Atualizada em 28/10/2019 20h14

 

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O mais antigo dos projetos de extensão da UNITAU em atividade tem mais de 40 anos de serviços prestados, destinados a levar educação e garantir a melhoria da saúde de moradores, especialmente da área rural.

As atividades práticas proporcionadas por ele também mudaram a forma como muitos alunos encaravam a disciplina de parasitologia, aquela que estuda, por exemplo, pequenas pragas para a vida do homem (principalmente das crianças), entre elas o piolho e a lombriga.

O Prevenindo parasitoses em harmonia com a natureza surgiu com a criação do curso de Medicina, em 1967, cuja grade curricular já previa a disciplina. Somada à necessidade de estudo dos alunos, figurava a situação da comunidade local, que, com um saneamento básico ainda engatinhando, sofria com doenças típicas de ambientes em que não existe a coleta e a destinação correta do esgoto, nem o tratamento de água.

A princípio, o foco era a área urbana, mas, há 16 anos, com a melhora das condições de saneamento na região central, o projeto voltou seu foco para a área rural, que, em Taubaté, continua sem coleta e tratamento de esgoto.

“Às vezes, os alunos reclamam da disciplina, acham-na muito complexa. Mas, quando atuam na prática, se encantam. Trazer o aluno para a realidade daquele que está exposto ou pode estar exposto a essas doenças que hoje têm solução marca”, afirma a Profa. Dra. Ana Julia Urias dos Santos Araujo, coordenadora da iniciativa.

Junto com ela, atuam no projeto a Profa. Ma. Francine Alves da Silva Coelho, a Profa. Maria Lúcia Firmino de Oliveira Carvalho, três bolsistas do curso de Ciências Biológicas (um deles voluntariamente) e 17 estudantes do curso de Medicina, também voluntários.  

Fossas

O projeto começou com as ações educativas nas escolas e nas comunidades e a realização de exames na população atendida, para diagnosticar possíveis doenças causadas por parasitas, sendo as três mais comuns a giardíase (que acontece, por exemplo, por contaminação das verduras e provoca diarreia), a pediculose (os piolhos) e a ascaridíase (lombriga).

As causas podem estar relacionadas com a higiene inadequada, ou com o contato indevido com fezes humanas ou animais, por isso as doenças estão intimamente ligadas com a existência ou não de saneamento.  

“Antigamente, o número de crianças doentes era muito grande, porque não havia esse tipo de trabalho e nós tínhamos o problema de elas não terem fossa em casa. O esgoto era jogado, ou no ribeirão, ou então em uma valeta atrás de casa mesmo”, contou a professora Débora Maria Naldi Marcondes, da Escola Municipal do Pouso Frio.

Pensando em resolver essa situação, o projeto encampou uma nova proposta: a construção de fossas ecológicas. As famílias das crianças que estudavam na escola tiveram os equipamentos instalados nos quintais. Ao todo, foram 14 biodigestores no Pouso Frio (13 em casas de moradores e um na escola) e outros 24, sendo cinco no bairro do Macuco, em Taubaté, e 19 no bairro da Lagoa, em Redenção da Serra. 

Assim, hoje, essas famílias não depositam mais o esgoto diretamente nos rios, o que, além de colaborar para a saúde dos moradores, é benéfico para a preservação ambiental.

“Melhorou muito, porque antes tudo caía direto na água corrente. Hoje, tem gente que nos procura para saber como funciona e quer instalar em casa também”, conta Roseli Andrade Pereira dos Santos, moradora do Pouso Frio.

Educação

Além de nos bairros do Pouso Frio e do Macuco, o projeto atua em outros dez bairros de Taubaté, contemplando toda a área rural do município.

Cerca de 200 crianças são acompanhadas anualmente com os exames para diagnóstico de parasitoses. Naquelas em que são identificadas doenças, há o encaminhamento para os serviços de saúde competentes. A parceria com diferentes órgãos públicos e privados é uma característica importante para o bom funcionamento das atividades.

Além disso, as escolas e comunidades recebem visitas educativas periódicas da equipe. Nelas, os alunos e professores preparam atividades para o público, com o objetivo de oferecer conhecimento e de conscientizar a comunidade sobre as doenças.

“No curso, aprendemos os nomes científicos, os ciclos biológicos. Aqui, temos que transformar as informações de uma maneira que fiquem educativas e simples para as crianças, para que elas possam absorver o principal, que é o método de prevenção”, avalia a aluna Letícia de Toledo Oliveira, do curso de Medicina.

Empenhados no projeto, os integrantes pensam no seu futuro encerramento como uma conquista e um recomeço, uma vez que, se sanadas as doenças, não seriam mais necessárias as ações hoje realizadas. Uma vitória. Permaneceria, sim, a necessidade de levar informação e conhecimento, talvez para novos públicos ou de novas formas. O recomeço. E esse projeto, maduro, não vê a hora de poder se reinventar.

Simone Gonçalves
ACOM/UNITAU